Não eu não pensei

Abro a porta a minha frente, acendo a luz do candeeiro da secretária vazia, pego numa folha de papel e numa caneta, sento-me e escrevo:
“Toda a minha vida passei-a em frente a um computador a fazer trabalhos, para tirar boas notas, e o que ganhei com isso para além de um diploma e de mais cultura? Eu digo-vos o que, NADA, porque aquilo que devia ter ganho, FELICIDADE, não ganhei, porquê, porque estava ocupado em tirar boas notas, em vez de me preocupar em viver a vida e aproveitá-la. Momentos lindos que podia ter passado e não passei, amado quem devia amar e não amei, e em vez disso, momentos cansativos em frente ao computador a pensar como escrever aquela frase, chatear e desrespeitar quem deveria amar por causa do trabalho que tinha para fazer.”
Penso: “Agora é tarde de mais, já perdi tudo.”
Escrevo: “ Um dia arrependi-me do que fiz, mas já era tarde, e tudo o que tinha deixado para trás por causa do trabalho que não me dava nada, perdi.”
Penso: “ Estou sozinho neste mundo sem nada, nem ninguém para me aconchegar.”
Escrevo: “ Só gostava de poder reviver tudo isto e não cometer os erros que cometi. Apesar de estar empenhado em tirar boas notas, amei e fui amado, mas deixei-me afundar nos livros e nos estudos, e perdi-me ao ponto de me encontrar tarde de mais.
Vou contar-vos uma história.
Era uma vez um menino que andava sozinho e que estudava muito para não se sentir sozinho, mas havia alturas em que ele parava para pensar no que estava a fazer e foi num desse momentos que se apaixonou e descobriu realmente o que é o amor. Tal como lutara pelos estudos, ele lutou por quem amava e conseguiu, mas mesmo assim continuava a estudar muito, os estudos tornaram-se uma droga para ele, e chegou a uma altura do seu relacionamento que já não ligava quase nada à sua amada por causa dos estudos e perdeu-a, mas como já não conseguia viver sem os estudos continuou sem dar grande importância a sua perda, e assim ficou até ao fim da sua vida. “
Penso: “ Para que conto eu isto não me serve de nada”
Escrevo: “Sim esse rapaz sou eu mas com um senão, ainda não morri e apesar de tarde apercebi-me do que tinha feito e arrependo-me de ter desperdiçado a oportunidade, mas o erro foi meu, tenho de acartar com isto. A vida dá-nos prendas e muitas delas nós não sabemos aproveitá-las e as prendas vão-se tão depressa como vieram.
Só peço para quem ler isto um dia isto, não cometer o mesmo erro que eu. A vida é nos dada com o sentido de a aproveitar-mos ao máximo. Carpe Diem. Mesmo que tenhamos muitos trabalhos para fazer devemos saber organizar-mos de maneira a poder-mos fazer tudo, divertirmo-nos e estudar. Coisa que nunca fiz.
Perdoem-me aqueles a quem magoei.
Perdoa-me Genebra.
Provavelmente quando lerem isto já morri, mas mesmo assim vale a pena dizer que este seria o meu destino, mas muitos de vós não acredita no destino por isso considerem isto como uma lição de vida que tive e que talvez mais tarde sirva de guia ou até mesmo de experiência para outros.
Petrus”
Dobro a folha deixo-a em cima da secretária vazia, arrumo a caneta no lugar, levanto-me, apago a luz do candeeiro, olho mais uma vez para a folha e fecho a porta atrás de mim.

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