A esquina

Noite de chuva, em Oxford. Ia eu a correr avenida a baixo, o mais depressa que podia para chegar a casa, o que não valia a pena visto que já estava todo encharcado, mas mesmo assim continuara a correr, já faltava pouco e ao virar da esquina embati em algo. Não dava para perceber muito bem o que era ou quem era devido á chuva, batia-nos com tanta força na cara que impossibilitava-nos de ver. Continuei a tentar até que me apercebi que era um ser humano, levantei-me pedi desculpa e dei-lhe a mão. Ao tocar-lhe senti que era uma mão de mulher, levantei-a e ficamos frente a frente, era mais uma das muitas mulheres belas que viamos no dia a dia na rua, só que para mim esta acabara de se tornar especial, o olhar, o toque, o cabelo, era especial apesar de parecer igual a muitas outras.
Fiquei com aquela imagem na cabeça.

Agradeceu-me e voltou a correr como se nada tive acontecido, eu segui-a com a cabeça, mas ela desapereceu passado um bocado por entre a chuva. Pus-me novamente a correr, mas sempre com a mesma imagem na cabeça, a dela. Cheguei a casa despi-me, tomei banho, vesti o pijama e deitei-me na cama a olhar para o tecto.
Não preguei olho a noite toda, sempre a pensar nela, quem seria? Onde morava? Ao menos se tivesse consigo perguntar-lhe o nome, mas nem isso soube fazer.

Andei nisto semanas e semanas, nunca mais a tinha voltado a ver, até que uma noite em que lua estava cheia, ia a passar pela avenida e ao virar a esquina cruzei-me outra vez com ela, mas desta vez não estava só, vinha acompanhada e parecia ser o seu namorado, pela maneira como se tratavam, ela viu-me olhou para mim sorriu, acenou e continuou o seu caminho.
Fiquei ali especado a pensar, depois deste tempo todo a pensar nela no que faria se a voltasse a ver, voltei a ficar parado, e ela que só me tinha sorrido e acenado, porquê? será que não tinha pensado em mim nem um segundo.
Quando dei por mim tinha continuado caminho, era como se o meu corpo tivesse destino e a minha cabeça não.
Continuei, continuei, nem se quer tentei dete-lo, estavam-me a levar para o metro, sentia-me cada vez mais triste por dentro, pensava ter encontrado a minha alma gêmea, mas afinal não.
Entrei no metro, sentei-me e encostei a cabeça no vidro, estava ali sem destino, só pensava nela e cada vez que o fazia ficava ainda mais triste parecia que estava a perder pedaços da alma aos poucos e poucos, mas mesmo assim não parava de pensar nela.

Adormeci após tanta dor, adormeci para nunca mais acordar, adormeci com uma unica imagem na cabeça, a dela.