HZMTFV XV ERMTZMWZ -Sangue de vingança

Tinha de ir ao centro comercial. Havia um livro que estava em stock, e que eu tanto queria. Era uma e meia da tarde, hora de ponta nos centros comerciais, era a única hora que tinha livre.
Quando entrei o centro estava cheio, mal nos conseguíamos mexer. Avancei por entre a multidão até chegar à livraria. Havia uma fila enorme, a sair da livraria. Às tantas, já era difícil perceber onde termina a fila e começava a multidão que por ali passeava. O barulho era imenso.
No meio de toda aquela multidão, vindo de dentro da livraria, ouve-se: «É a última distribuição do livro “Sangue de Vingança”». Comecei a correr, ultrapassando e atropelando as pessoas. Á medida que passava apercebi-me que aquela fila onde tinha estado à espera, não era para o livro, mas sim para um autor qualquer que iria lá dar uma sessão de autógrafos. Tinha estado meia hora numa fila para receber um autógrafo. Estúpido. Agora estava a atropelar todos, só porque não tinha percebido mais cedo que não estava no sítio certo. Estúpido de merda. Realmente, tinha achado estranho o facto de ninguém ter resmungado por eu estar a ultrapassar. Vi o homem que estava a distribuir os livros, a erguer o último livro, não tinha mais ninguém à frente. Era meu, o último livro de uma grande colecção, era meu. Cheguei ao pé do homem, parei. Mal cheguei, algo embate em mim e sou projectado para uns bons 2 metros do distribuidor. Levantei a cabeça e vi à minha frente um homem, mais ou menos com a minha idade, bastante corpulento, loiro, de olhos verdes. Olhei para ele de alto abaixo e vi-o a agarrar no livro. Ele tinha-me empurrado por causa do livro! Virou-se para mim, com o livro na mão, e fez um sorriso como quem diz: “temos pena, agora é meu. Fraco.” E foi-se embora com um grande sorriso nos lábios. A raiva subiu-me à cabeça, mas não podia fazer nada. O último livro da minha colecção esteve a 2 centímetros de mim e tinha-o perdido, por causa de uma besta. Resolvi ir espairecer à zona de restauração do centro. Comecei a sentir-me mal disposto e pedi uma garrafa de água com gás. Peguei na garrafa e sentei-me numa mesa a bebê-la. Havia muito barulho. Mas houve um ruído que se estava a destacar. Olhei na direcção de onde vinha o som e petrifiquei. Aquele som todo, era feito pelo homem que me tinha empurrado na livraria e ficado com o meu livro. Ele ria-se do que lia. A raiva voltou-me a subir à cabeça. Notava-se que ele não percebia o que lia, principalmente conhecendo eu tão bem o autor da colecção, e sabia que ele não era de escrever comédia, ainda por cima numa colecção daquelas. Ele viu que eu estava a olhar para ele. Olhou-me bem nos olhos e fez um sorriso falso e de gozo.
Peguei na garrafa e atirei-a à cabeça dele. A garrafa partiu-se em mil estilhaços, que se projectaram no ar em várias direcções. O maior dos estilhaços ficou espetado mesmo no centro da testa do homem. Ele não sabia sequer o que lhe tinha acertado, apenas sabia que tinha vindo da minha mão. Olhou para mim com um ar assustado, todo ele tremia de alto abaixo, mal se conseguia mexer. Levantou-se, com muita dificuldade, e uma lágrima escorreu-lhe pelo rosto. Tudo à nossa volta, no centro comercial, olhava para aquela situação. Ardiam-me os olhos de tanta raiva que tinha daquele homem. As pessoas não sabiam o que deviam fazer, ajudar o homem ou travar-me. Olhei para as mãos. Tinham salpicos de sangue, sangue sujo, sangue daquele homem. Foquei-me outra vez no alvo e avancei na direcção dele. Ele estava apavorado com toda aquela situação. Cheguei-me bem perto dele, olhei-o nos olhos, bem fundo. Levei a minha mão à sua testa, e passei o dedo no pedaço de vidro que lá se encontrava espetado. Comecei a puxá-lo para fora muito lentamente, o homem gemia que nem um perdido, tirei o pedaço de vidro (da sua testa) e passei-o nos seus lábios. Ele chorava. Eu ria-me. Abri-lhe a boca e meti-lhe pedaços de vidro dentro da boca. Obriguei-o a mastigá-los. Ninguém à nossa volta se mexia. Estava tudo paralisado (a ver toda aquela situação). Até que voltei a enterrar o pedaço de vidro na sua testa com toda a força. Ele gemeu, mas um gemido em surdina, daqueles que arrepiam qualquer um, e caiu no chão, estatelado. De todos os lados corriam pessoas aos berros, assustadas (com tudo aquilo). Os gritos das pessoas começaram a diminuir na minha cabeça e comecei a ouvir o bater do meu coração. Deixei de ouvir as pessoas à minha volta. Já só ouvia o meu coração a bater, com grande velocidade. Olhei para o livro aberto em cima da mesa e estava coberto de sangue. Uma mancha suja. De repente comecei a olhar à minha volta e, de todos os lados, começaram a surgir seguranças, que me agarram e me colocaram no chão com uma grande brutalidade. Caíram todos em cima de mim, não ficou um de fora. Voltei a ouvir os ruídos à minha volta. Fui algemado. Levantaram-me. Não ofereci resistência nenhuma. Olhei mais uma vez para o homem ali estatelado no chão, com o pedaço de vidro espetado no testa e lancei uma gargalhada medonha no ar. Levei uma cacetada na cabeça de um dos seguranças e, quando acordei, estava atrás das grades. Estava deitado na cama da cela, ainda tinha a mesma roupa e as mãos cobertas de sangue.
Levantei-me e olhei para o relógio na outra ponta do corredor, o relógio estava parado, de nada serviu. Ouvi o tilintar de chaves a baterem umas nas outras. Ouvi uma porta de metal a abrir, depois passos, a porta voltou a fechar-se. Os passos seguiram-se e alguém caminhava na minha direcção. Deitei-me na cama calmamente, a olhar para o tecto. O guarda abriu a porta da cela…
“Ó palhaço! Anda daí. Tenho uma prenda para ti.”
Levantei-me outra vez e, ao passar pela porta da cela, deu-me um ataque de vingança. Virei-me de frente para o guarda e, conforme ele passou pela ombreira da porta, fechei-a com toda a força. As grades bateram-lhe no rosto, projectando-o para trás. Caiu junto à parede do fundo da cela. Abri a porta. Caminhei até ele, peguei no cacetéte que tinha à cintura. Levantei-o. Ele aguentou-se de pé, a cambalear, o tempo suficiente para lhe acertar em cheio na nuca, com o cacetéte. Caiu em cima da cama com a cabeça aberta na nuca. Ainda estava consciente. Encostei-me à parede a vê-lo sofrer e a contorcer-se com dores. Tinha um lavatório na cela. Abri a torneira e lavei as mãos. Lavei o lavatório, depois de acabar de lavar as mãos. Virei-me e enxuguei as mãos à camisa. Vi o guarda a rastejar até à porta da cela, devia querer tocar o alarme. Calmamente, caminhei ao lado do guarda, ele levantou a cabeça com um ar de raiva e aterrorizado, e fechei a porta. Tirei-lhe a arma da cintura e descarreguei-a. Depois, tirei os cobertores da cama e atei os membros superiores do guarda às grades da cela e os membros inferiores um ao outro… Agora o que sabeis, sabeis. E daqui por em diante não direi mais uma palavra…