O SER parte 2

As estrelas cintilavam no céu. Era um fenómeno raro, assistir ao furor da natureza. No entanto, naquela noite de verão, algo não estava no seu lugar. O aroma da natureza estava alterada, a brisa zumbia nos ao ouvido “cuidado”, e ate mesmo a água do mar parecia assustada. As ondas batiam na areia com uma brusquidão tal que faziam estremecer o solo. Eu encontrava-me sentada em frente à agua a assistir a toda aquela mistura de fenómenos. Subitamente tudo parou. Gerou-se um silêncio aterrador, que fez gelar todo o meu corpo. Era como se o coração da terra tivesse parado de bater. Toda aquela energia possante da natureza desaparecera. Encontrava-me rodeada de trevas. Eu parecia ser a única vida existente. O meu coração era o único a brotar energia. Vindo do vazio surgiu um esganiçar imperceptível. Levei as mãos aos ouvidos para impedir aquela tortura. O som persistia e o meu sofrimento aumentava, já não aguentava mais. Sosseguei ao ouvir o som findar e em seu lugar surgir uma melodia deliciosa, quase divinal. Baixei a barreira que me tapava os ouvidos, e recebi a melodia dentro de mim. A melodia começou a aquecer me o coração e o corpo, a minha temperatura aumentava a cada batida da minha fonte de energia. As batidas aceleraram-se e a temperatura já me era insuportável. Levantei-me a custo, corri na direcção da água e mergulhei. Dentro da água tudo se estabilizou, excepto a melodia. Dentro da água a melodia era frases, palavras, era um pedido. Um pedido vindo de uma voz doce e celestial. Era a voz de uma fêmea. “ Protege-o bem. Sem ele não há futuro, sem ele o mar não vive, sem ele, tu sucumbirás, sem ti ele fraquejará.” Após escutar o pedido, fui abordada por uma sensação estranha, algo que nunca tinha sentido até aquele dia. Uma sensação que me atacou suavemente as entranhas suavemente, percorrendo todo o meu corpo e estabilizando-se no ventre. Levei as mãos ao ventre. Ao tocar-lhe, percebi que algo dentro de mim se tinha alterado, havia uma energia nova pulsando a uma velocidade estrondosa. Eu estava grávida. Estava a gerar dentro de mim uma nova criatura, um novo ser. A vida dentro de mim começou a desenvolver-se muito rapidamente. Vi o meu corpo a mudar assustadoramente. Os meus seios aumentaram, a minha barriga ganhou uma nova forma. Uma nova dor atordoou-me. O ser que crescera dentro de mim queria sair. Tentei contrair-me, de modo a evita-lo, mas ele queria sair a todo o custo. Lutávamos um contra o outro. Seres do mesmo sangue, da mesma vida. Repentinamente o oxigénio que eu inalara antes de mergulhar, esgotara. Sempre tivera grande resistência a suster o fôlego dentro de água mas o tempo acabara. Continuávamos a lutar um contra o outro. Ambos parecíamos teimosos, não nos quedando perante o outro. Fui então vencida pelo meu próprio ser. O facto de não me encontrar no meu meio, fez-me perecer perante a criatura. O oxigénio dentro dos meus pulmões acabara. Perdi os sentidos. Quando a minha energia restabeleceu, apercebi-me que não em encontrava no mesmo meio onde perdera a consciência, abri os olhos e vi que me encontrava novamente na areia. Olhei em redor e tudo se encontrava tal e qual como quando cheguei à praia. Teria tudo aquilo passado senão de um sonho? Pousei as mãos na areia para tentar erguer-me e uma dor assolou todo o meu corpo. Não tinha energia par ame levantar. Cai na areia, que por sua vez me amorteceu a queda. Senti pontadas no órgão genital que fizeram contorcer-me toda. Pressionei-o com os dedos. Ao levar as mãos ao seu encontro, senti um liquido viscoso e quente a tocar-me nos dedos. Olhei para as mãos e estavam cobertas de sangue. Sangue que vinha das minhas entranhas. Afinal tudo o que se passara tinha sido real. Eu tinha algures, naquela imensidão de água uma criatura vinda do meu ser, que precisava de mim para viver. Eu tinha de encontrar o meu filho…
Corri no alcanço do mar, mergulhei e comecei a nadar loucamente, desesperada. Onde haveria eu de procurar a minha cria! As forças já me eram pouco mas mesmo assim continuei a nadar, a nadar…
Tudo à minha volta começou a desfocar-se, os meus olhos já pesavam e o meu corpo flutuava sobre a imensa superfície de água. Fechei então os olhos vencida pela exaustão.

Sem comentários:

Enviar um comentário